Forte concorrência das detentoras de veículos no mercado de mobilidade brasileiro pode ser um risco para as locadoras tradicionais
A cada dia surgem novas soluções em mobilidade. Ao que tudo indica o carro por assinatura é um movimento que veio para ficar. Chegou ao mercado há alguns anos, com a Porto Seguro (Carro Fácil Porto Seguro), que foi acompanhada pela Localiza (Localiza Meoo), Unidas (Unidas Livre) e pela Movida (Movida Mensal), cada qual com sua particularidade. Mais recentemente entraram no mercado as montadoras e concessionárias, que passaram a enxergar a locação de veículos para pessoa física por longo prazo como um novo nicho de atuação.
Várias delas começaram a ofertar serviços de mobilidade, concorrendo com as locadoras de automóveis. A Toyota, por exemplo, está apostando pesado na empresa Kinto, já presente em 29 países, incluindo o Brasil. O principal serviço é o Kinto Share, plataforma de aluguel de carros Toyota e Lexus por horas ou dias. Já o Kinto One fornece frotas para empresas. A nova modalidade de carros por assinatura é um grande passo para a montadora na transição de uma fabricante de veículos para uma prestadora de serviços de mobilidade. Na mesma linha estão seguindo outras fabricantes.
A Caoa-Chery, que vem expandindo o fornecimento de veículos para locadoras como forma de manter as vendas durante a pandemia – especialmente em Goiás –, lançou no início do ano sua própria locadora, a Caoa Rent a Car. A empresa é responsável por locar carros da própria montadora, como também das outras marcas que representa no Brasil – Ford, Hyundai e Subaru.
A Volkswagen iniciou em novembro seu programa de locação para pessoas físicas, inicialmente com dois modelos, o T-Cross e Tiguan, mas a ideia é ampliar o portfólio já a partir do ano que vem, até chegar a toda a linha de veículos da fabricante.
A Associação Brasileira de Concessionárias Fiat (Abracaf) é o mais recente player a anunciar seu ingresso no mundo dos carros por assinatura para o cliente final, visando os consumidores que preferem alugar em vez de comprar. O anúncio do novo modelo de negócios foi feito pelo presidente da Abracaf, José Carlos Dourado, em uma live transmitida pelo Youtube no dia 13 de novembro. O sistema proposto é que cada concessionário seja dono de sua própria locadora, e as operações devem iniciar em fevereiro de 2021.
A chegada da forte concorrência das montadoras e concessionárias ao mercado de mobilidade brasileiro representa um marco no setor automotivo, e pode ser um risco para as locadoras tradicionais. Por outro lado, como as locadoras bem sabem, apesar das atividades de locação e concessionárias tratarem de veículos são bastante diferentes. Diferente das concessionárias e montadoras, que finalizam a operação com a entrega do veículo para o novo proprietário, a locação não trata simplesmente de entregar um veículo para o cliente hoje e recebe-lo de volta daqui 24 ou 36 meses. São diversos problemas que aparecem pelo caminho, desde a inadimplência, as multas de trânsito, a apropriação indébita, o furto, roubo, o mau uso, e acidentes com terceiros sendo alguns deles de grande monta com problemas enormes sob o guarda-chuva da Súmula STF 492. É esperar para ver como essas debutantes irão se sair nesse terreno arenoso.